A anemia falciforme (AF) foi descrita pela primeira vez em 1910 por
Herrick, como sendo uma doença de caráter autossômico dominante que afeta, mais
frequentemente, indivíduos negros, porém não sendo exclusiva desta etnia.
A causa da doença é uma mutação
da hemoglobina, dando origem a uma hemoglobina anormal denominada hemoglobina S
(HbS), ao invés da hemoglobina normal denominada hemoglobina A (HbA).
No Brasil, a predominância é
entre negros e pardos, mas também ocorre entre brancos em função da
miscigenação.
Existe mais de 2 milhões de
portadores do gene da HbS, no Brasil, mais de 8.000 com a forma homozigótica.
Em todo mundo nascem 250.000
crianças a cada ano com AF, sendo 200.000 somente no continente africano.
A Bahia é o maior estado
brasileiro em número de portadores de HbSS e o terceiro estado em internamentos
por complicações da AF, sendo responsável por 1,8 casos por 100,000 habitantes.
A AF resulta de uma mutação no
cromossomo 11 que provoca a substituição do ácido glutâmico pela valina na
posição 6 da cadeia beta da globina, dando origem a hemoglobina S, que irá
determinar todas as consequências fisiopatológicas da doença.
A AF pode se manifestar na forma
do traço falciforme ou na AF. O portador do traço falciforme tem um gene
anormal, mas não desenvolve a doença.
A hemoglobina S é desoxigenada
gerando a distorção da forma da hemácia, tornando-os parecidos com uma foice.
Um glóbulo normal dura em média
120 dias, no entanto, um glóbulo falciforme dura em torno de 15 dias.
→ Esse processo de falcização é
desencadeado por crises hemolíticas, podendo ser de quatro tipos:
- dolorosa
- aplástica
- hiper-hemolítica (ocorrendo em crianças )
- por sequestração
A mais comum é a do tipo dolorosa
ou por obstrução, há a obstrução do fluxo sanguíneo por massas emaranhadas de
células falcizadas.
SINTOMAS
Dactilite – Síndrome Mão e Pé
Geralmente,este é o primeiro
sinal da doença. É uma inflamação aguda dos tecidos moles que revestem os ossos
dos tornozelos, punhos, dedos que se apresentam inchados.
Crises Dolorosas
A célula em forma de foice tem
pouca mobilidade e flexibilidade e pode obstruir o sistema circulatório,
impedindo o fluxo de sangue e oxigênio aos tecidos e órgãos.
Infecção e Febre
Os doentes falciformes são mais
suscetíveis a infecções, como pneumonias, meningite, osteomielite e septicemia.
Icterícia Hemolítica
Com a destruição rápida dos
glóbulos vermelhos um pigmento chamado bilirrubina é liberado, como o fígado
não consegue eliminar toda essa bilirrubina ela fica acumulada no sangue
circulante e fazendo com que a pele e ou olhos fiquem amarelados.
Úlceras de Perna
São feridas que surgem ao redor
do tornozelo e parte lateral da perna, bastante dolorosas e tendem a
cronificar. Podem iniciar na adolescência e parecem ser mais frequentes nos
meninos.
Sequestro Esplênico
Retenção de grande volume de
sangue dentro do baço, sendo percebido com mais frequência em crianças com até
cinco anos de idade.
É um quadro agudo e grave, a
evolução é rápida.
COMPLICAÇÕES
Os eventos mais frequentes são a
crise dolorosa vaso-oclusiva, síndrome torácica aguda e as infecções
bacterianas.
Os fenômenos vaso-oclusivos
característicos das doenças falciformes podem ocorrer em qualquer órgão,
incluindo o coração e os pulmões. As complicações pulmonares estão entre as
principais causas de morbidade e mortalidade.
Infecção
Os principais agentes etiológicos
associados a episódios de infecção bacteriana invasiva são:
➦Streptococos
pneumoniae (causa mais frequente de pneumonia)
➦Salmonella
spp
➦Haemophilus
influenzae tipo b
➦Escherichia
coli
➦Klebsiella
spp
O risco de infecções pelo pneumococo
em crianças menores de 5 anos portadoras de AF é de cerca de 30 a 100 vezes
maior do que em crianças saudáveis.
Complicações Pulmonares
Os infartos pulmonares múltiplos
não são raros, possivelmente secundários a tromboses venosas ou embolismo,
atingindo às vezes vários lobos.
Complicações Cardíacas
Ocorre aumento do DC e do VE que
são acompanhados de elevação da PA sistólica e da pressão venosa. Também é
frequente o aumento da área cardíaca e malformações vasculares congênitas.
Síndrome Torácica Aguda (STA)
É a segunda causa mais frequente
de hospitalização de pacientes com doença falciforme, com taxas altas de
morbidade e mortalidade.
É definida pela ocorrência de dispneia, dor
torácica, febre, tosse e pelo aparecimento de infiltrado pulmonar na
radiografia de tórax.
É uma forma de doença pulmonar,
potencialmente muito grave, que pode progredir SARA.
Todos os fatores que favorecem a
hipóxia favorecem também a falcização na circulação pulmonar, podendo
desencadear a STA: infecções, embolia gordurosa decorrente de infarto da medula
óssea, hiperidratação, sedação excessiva, atelectasia devida à hipoventilação
secundária à dor torácica, tromboembolismo, apnéia do sono, broncoespasmo.
Acidente vascular cerebral
Intercorrência grave, que se
caracteriza pela interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro.
A causa mais comum de AVC na
infância é a AF.
De 5% a 10% das crianças com AF
desenvolverão AVC
Estudo no hospital do RJ com 228
pcts com AF, 81% dos pcts que apresentaram AVC tinha menos de 15 anos.
O nível baixo de Hb e a contagem
maior de granulócitos e plaquetas tem sido apontadas como fatores de risco para
AVC.
Asplenia Funcional
Em razão dos constantes processos
de vaso-oclusão no baço, este órgão tende a perder sua capacidade funcional,
culminando com sua atrofia.
Episódio Aplástico
Os glóbulos vermelhos são
produzidos pela medula óssea. Em razão de uma infecção viral, esta produção
poderá ser interrompida.
Complicações Oculares
Os doentes falciformes estão
sujeitos a complicações oculares diversas, devido ao processo vaso-oclusivo que
ocorre também na circulação dos olhos. A retinopatia falciforme proliferativa
pode causar cegueira.
Complicações Renais
Por causa dos processos
vaso-oclusivos e da anemia crônica, os pequenos vasos dos rins são afetados,
resultando em complicações estruturais e funcionais.
DIAGNÓSTICO
A detecção é feita através do
exame eletroforese de hemoglobina. O teste do pezinho, realizado gratuitamente
antes do bebê receber alta da maternidade, proporciona a detecção precoce de
hemoglobinopatias.
A inclusão da eletroforese de
hemoglobina (exame laboratorial que separa os tipos de Hb e medi a quantidade
de Hb A e detecta as Hb anormais) nos testes de triagem neonatal representou um
passo importante no reconhecimento da relevância das hemoglobinopatias como
problema de Saúde Pública no Brasil.
Em 2005 se instituiu no SUS, as
diretrizes para a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença
Falciforme e outras Hemoglobinopatias.
Também usado as radiografias dos
ossos, onde é visível o processo de hiperplasia eritróide acentuada da medula
que demonstra alargamento dos espaços medulares, adelgaçamento do córtex e
lesões nos corpos vertebrais com o aspecto de “boca de peixe”.
TRATAMENTO
Objetiva a promoção da
reabilitação osteomioarticular e cardiopulmonar, diminuição e melhora das
algias, melhora da ADM, prevenção de trofismos musculares, recuperação da
mobilidade dos tecidos moles, melhora da resistência aos pequenos esforços e da
CPT, melhora da dispnéia.
❋Eletroterapia e
Termoterapia ➨ analgesia e melhora a circulação sanguínea.
❋Cinesioterapia
passiva, ativo-assistida e ativa
❋Trabalho aeróbio de
baixa carga
❋Inspirometria de
incentivo
❋VNI ➨ melhorar
oxigenação, ↓ WOB
❋Oxigenoterapia ➨ hipóxia
❋Transfusões de concentrado de hemácias ➨ melhora
a capacidade de transporte de O2
Fonte:
OLIVEIRA, R. et al. Perfil das internações por pneumonia em
crianças portadoras de anemia falciforme em hospital pediátrico de Salvador.
Revista Baiana de Pediatria, vol. 5, nº1, 2011.
CANÇADO, R; JESUS, J. A doença falciforme no Brasil. Rev.
bras. hematol. hemoter. 2007;29(3):203-206.
GUALANDRO, S; FONSECA, G; GUALANDRO, D. Complicações
cardiopulmonares das doenças falciformes. Rev. bras. hematol. hemoter. 2007;
29(3):291-298.
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